quarta-feira, 30 de novembro de 2011

MINHAS MÃOS SÃO ROSAS



Minhas mãos, quando você as toca, são rosas
Quis eu mumificar-me
Parar as horas
Cessar meu respirar
Não seria morte,
Apenas vida...

porque é o pouco que me basta.

Se eu não tivesse anjos
Pararia de caminhar
(não preciso mais)
Pararia de pedir
(pois acabo de receber)
Pararia de sofrer
(acabou-se a busca)

Só assim,
eternizada por esse momento,
Lançar-me-ia a nado
ao encontro dos confins do mar da vida.


por Suzana Guimarães

sábado, 26 de novembro de 2011

O maior deleite é ler com as mãos

REVISTA MOSTRA PLURAL


A Francy`s e a Lu Guedes convidaram-me para ser colunista na Revista Mostra Plural, que acaba de nascer.

Nasceu em mim um texto, "Há uma varanda dentro de mim".

Os interessados em ler a revista, que terá seu primeiro volume distribuído gratuitamente, deverão escrever para a Francy`s, pedindo um exemplar, no seguinte endereço:



O maior deleite é ler com as mãos!

Suzana Guimarães/LILY

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DOS HOMENS QUE GOSTO



(Suzana Guimarães - arquivo pessoal)



Eu gosto dos homens de sorriso fácil, cujos olhos são sérios. Eu gosto dos homens que não me levam muito a sério, dos homens que se divertem com meu riso solto, minhas gargalhadas sem licença. Eu gosto dos homens que gostam de mim, que me entendem de forma fácil, mesmo que nada compreendam. Gosto dos homens que acreditam em certezas, mesmo que tenham dúvidas, mesmo que o tempo se feche, gosto dos homens que se entregam e dos que não me encostam na parede, são eles próprios a parede, onde posso deslizar feito pluma ou pesar feito chumbo. Não gosto de homens que gritam 'ai', prefiro a palavra feia. Não gosto de homens que não gostam de espelhos, principalmente os da alma. Gosto de homens com cheiro bom ou mesmo com cheiro nenhum. Gosto de homens que sabem abrir a garrafa de vinho, despejá-lo na taça, que saibam abrir um sutiã. Gosto de homens cavalheiros, gosto daqueles que acompanham, que fazem graça, só para ouvir meu riso ou meu xingo, que carregam sacolas, que dizem 'sim', que esperam pelo meu passo calmo na calçada; e dos que não se esforçam para abrir portas, gosto dos que não comparam sentimentos. Gosto de homens com respostas curtas, incansável bom humor, poucas promessas, mas valentes, fortes, despojados, senhores de si mesmos. Gosto dos homens que fazem cafuné. Gosto de homens educados, mas não gosto de príncipes, não gosto dos homens enciclopédia, e nem dos que fumam, dos que não praticam esporte, dos que falam alto, dos que acordam falantes, dos que não sabem apreciar o nada, dos que não aparam a barba. Gosto de homens que não pegam na minha nuca e dos que não beijam minhas mãos. Gosto de homens que esperam a hora e a minha hora. Gosto de homens que procuram compreender o que é sangrar e parir. Gosto de homens que elogiam minha pele despida. Gosto dos homens que entendem meu falatório barato e meus profundos silêncios. Gosto dos homens que não me deixam ranzinza, que me distraem e dos que gostam de aprender e de ensinar. Gosto dos homens com palavras doces, dos calmos, mas que sabem bater na cara de qualquer safado. Eu gosto dos homens que me fazem rir.


Por Suzana Guimarães

domingo, 20 de novembro de 2011

CONSTATAÇÃO





Ela só faltou gritar

Se tivesse gritado, ao pular, você a alcançaria?

Você pularia e juntos

ganhariam o vácuo, igual passarinhos?


Mas ela não gritou

Você também não pulou


E a vida rola mansa

No pomar, frutas secas, pendentes, anseiam o chão

Na cesta, as rosas murcham

O rio caudaloso secou


Mundo de descaminhos, precipícios que se abrem em vão

Quantas belezas em franco desperdício?


No pomar, sementes nascentes anseiam por você

Na cesta, rosas secas perfumam o ar que a rodeia

O rio caudaloso secou

Virou caminho, virou tudo aquilo que o tempo apagou



por Suzana Guimarães

sábado, 12 de novembro de 2011

A[S]SIM


(fotografia de Suzana Guimarães - arquivo pessoal)


É mais ou menos assim, sou ave que não se pega, penhasco que não se alcança, essência que não se farta. Sou o beijo que deixei de dar, a lembrança do que dei e pedi, e também o sonho daquele que darei. Sou a água fina que escorria da bica, no quintal da casa grande. A casa era maldita, mas havia poesia por lá, os passantes a deixavam, os pássaros, o riacho escondido atrás do morro.

É mais ou menos assim, sou um bicho arisco, forte, perigoso porque conheço o medo, sou muitas vezes a bebida amarga além do gosto da boca, a comida que desce agarrando, mas posso ser o único alimento que alimenta teu vazio, teu buraco em meio ao peito. É mais ou menos assim, sou excesso de vírgulas para você saber que imponho limites, mas sou também reticências, sou promessa concreta, pois desconheço sonho sem pernas, desconheço palavras sem ação.

Sou mais ou menos, nunca serei o que habita entre os dois.


Por Suzana Guimarães

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

NAQUILO EM QUE NÃO PUDE SER, FUI APRENDIZ


fotografia de SCG - arquivo pessoal



Como é que alguém pode ser quase? Acredito em quase beijo, quase abraço, quase fim, quase tropeço, mas em quase pessoa, quase gente ou quase qualquer coisa que seja (do verbo ser), eu não creio e não aceito . Pois eu só sei ser. Eu sou. Eu sou mulher, sou brasileira, sou mãe, sou esposa, sou advogada, sou artista de nascença.

Em minha plenitude, vago nos mundos que quero e sou livre.

Andam confundindo literatura - pois estou escrevendo poemas, contos, cartas e crônicas - com a minha vida pessoal. Esmiuçam-me, caçam em minhas letras minha essência. Fiz a graça de criar dois Blogs. Em O Medo de Suzana, escrevo verdades; em Contos de Lily, ficção. E quem é que acredita nisso? Quem é que acredita que consigo separar esses dois mundos?

Se confundo, perdoem-me, mas eu nunca me vi como esclarecedora de coisa alguma. Sou sim, questionadora. Questiono tua alma, questiono teu querer, tuas verdades e mentiras. Questiono você inteiro, mesmo sem nunca ter visto o brilho dos teus olhos. Artistas de nascença ganham o dom. Há em mim uma janela de frente para o universo e por ela vejo muito além do que meus olhos me permitem.

Nesse meu mundo que ganhei e que criei para mim, posso escrever sobre dor, sobre sexo, amor, flor, risos, festas e também sobre a merda do cachorro na calçada. Escrevo sentimentos, sensações, e muito mais que os cinco sentidos juntos.

Mas há quem confunda a minha arte de escrever comigo mesma. E, se carrego dor na alma ou não, isso é problema meu. Claro, claro que carrego, eu sou plena, não sou quase. Sou um ser completo. Guardo mágoas, sim. Guardo dor. Guardo o que bem entender. Guardo vitórias e muitas. Ganhei da morte várias vezes, tenho dois filhos, na realidade tive quatro, perdi dois dentro da barriga, mas foram os meus filhos, pouco importando nome e sexo. Recomecei minha vida após os 40 anos. Sou plena. O corpo já não mais acompanha tão bem quanto antes o espírito, mas as horas em cima de um tatame ajeitam músculos e peles, e, principalmente, mente, no topo. Muitas vezes, entro na academia arrastando-me feito lagartixa, mas saio sempre de lá, uma águia.

Ah, uso a literatura também para xingar. E, naquilo em que não pude ser, fui aprendiz.


                                            por Suzana Guimarães