segunda-feira, 6 de março de 2017


(arquivo pessoal de Suzana Guimarães)


Certa vez, uma amiga escreveu-me: "Não ficarei babando ovo de amigo." Primeiramente, levei um safanão porque eu desconhecia a frase; em um segundo momento, fiquei triste, magoada, confesso, fiquei. Senti rispidez nela. Mas, ontem é passado e amanhã, eu nem sei, só sei que admiro, hoje, pessoas que falam e fazem coisas ríspidas porque a vida mudou e eu junto com ela. Certas rudezas caem bem de vez em quando. Em respeito a mim, em respeito aos meus pais que me edificaram, em respeito às pessoas que sofrem e batalham muito em extremo silêncio, em respeito às dores e quedas que eu presenciei ao longo dos meus cinquenta anos, eu não babarei ovo de amigo. Eu conforto, consolo, aplaudo, sustento moralmente, choro junto, comemoro, incentivo, mas eu definitivamente não babarei ovo de amigo; muito menos dos outros - não tenho a palavra que melhor define o oposto, para mim, de amigo.